por Vera Ghimel - veraghimel@oi.com.br
Todos falam sobre sofrimento como se falassem de sentimentos. Uma coisa nada tem ver com a outra. “Sentimentos” são estados afetivos produzidos por diversos fenômenos da vida intelectual ou moral. Podem resultar de percepções sensoriais ou representações mentais, nas palavras de uma das melhores definições que já encontrei de Theobaldo M. Santos, no seu livro eletrônico “Ética e Sociedade”.
Segundo Dr. José Carlos F. Diniz Gama, que é médico na Faculdade de Medicina de Sorocaba (PUCSP), o “sofrimento” é algo que nos transmite dor, angústia, desespero, medo, uma série de sensações desagradáveis e que tem como sinônimo a palavra “padecimento”. Sofrimento é uma palavra de origem grega: de sos=orientação e fren=intelecto, ou seja, “orientação da inteligência”. Se fosse mesmo inteligente não sofreria, se emocionaria. Ou então é a prova de que a inteligência está a serviço do mental que pouco sabe.
Significados à parte, vejo o sofrimento como a ante-sala do sentimento. Todas as vezes em que não conseguimos entrar no verdadeiro sentimento gerado por algum fato, entramos no corredor do sofrimento. É aquele momento da sala de espera de um dentista ou de um aeroporto, em que ficamos imaginando situações desagradáveis e que por não terem ainda gerado sentimentos, ficam no universo das suposições causando desconforto, medo, angústia, enfim, ”sofrimento”. É o descompasso da sincronicidade com a vida. É trazer o imponderável para aquele momento. É a mera suposição, na maioria das vezes. Ainda não aconteceu e já estamos sofrendo pelo não contato com o real sentimento que ainda não experimentamos.
Sofremos mais do que nos emocionamos. Se pudéssemos viver as emoções no seu real momento, deixaríamos de antecipar supostas possibilidades de encontrar com determinadas emoções.
Recentemente, tive uma paciente que sofria porque imaginava perder uma pessoa muito querida que já se encontra com as dificuldades da idade. A cada dia, quando lembra, vive a angústia da perda que ainda não ocorreu. Isso é sofrimento. Sentir é interagir com os fatos, com o que eles nos provocam. Isso é sentimento. Sutil, mas possível de compreender.
Quando nos emocionamos estamos emparelhados com os fatos. Quando sofremos estamos distantes do agora, entre imaginar o que aconteceria e relembrar o que aconteceu. O sofrimento aprisiona, perpetua, não dissolve e nem compreende. O sentimento liberta, transforma, nos ensina. O sofrimento nos vitimiza, o sentimento nos intensifica. Sentir é estar por inteiro, sofrer é estar no abandono.
Sofrimento nos leva para o lado ruim das emoções, criando a impossibilidade de poder viver o lado bom delas. Quem sofre se desespera, não tem esperança, não crê. Quem se emociona, tanto vivendo tristeza quanto alegria, amor ou ódio etc., mergulha no que é, pois sabe que mesmo bom ou ruim, esse sentir irá fazê-lo melhorar. Não é o sofrimento que dignifica, como se prega por aí, é o sentimento, a emoção que nos engrandece.
----------------------------------------------------------
Impressionante esse texto. Muitas vezes em alguns momentos da minha vida e até hoje me questionei se estava "sentindo" ou "sofrendo". E acabo de descobrir, que na maioria das vezes estava me emocionando e aprendendo.
VOU CONTINUAR ME EMOCIONANDO... sentindo e em algumas vezes até sofrendo.
Mas vou continuar com uma coisa absolutamente importante e que me fez ter sempre muito mais fé em mim mesma: ser verdadeira!
Um brinde às emoções! Elas nos fazem crescer!
Uma linda noite para vocês!
Um comentário:
belo e inteligente texto
Postar um comentário