2.3.20

Dia lindo. Sol, calor.Entro caminhando feliz na da Casa das Rosas. Caminho em direção ao nosso ponto de encontro, e vejo-o, com um lindo sorriso, aquele que gosto tanto... Sorriso e café.Conversamos, rimos, a companhia dele é sempre maravilhosa. Comentei que precisava por alguns minutos me ausentar.Levantei-me e não pude deixar de sorrir ao perceber como meu caminhar era observado.. Quando voltei, ele não estava mais sentado...Estava no seu lugar, uma sacola, elegante, e no meu lugar um bilhete: " Vista-se... te quero mais linda..." e anotado, com uma letra peculiar, um endereço próximo dali. Parei. Fiquei calada, por um tempo olhando ao redor procurando-o. Tinha a exata sensação de que você observava à distância a minha reação. Não esperava aquele ato. Fiquei trêmula e a boca secou. Involuntariamente, um tremor, quase um calafrio, toma conta do meu corpo. Sensação, que tinha certeza, dentro de mim, que duraria horas.Caminhei até o toilette, e troquei-me. Não podia me sentir mais vulnerável. Uma saia branca, curtíssima, que quase deixava à mostra, as maçãs de meu quadril... Uma saia leve... solta, onde qualquer vento que soprasse mais forte, faria com que ficasse meu corpo exposto. A blusa, do mesmo tecido, não tinha forro. As costas eram desnudas, somente com uma cordinha pra amarrar as duas laterais da blusa.Dentro da sacola, havia um bilhete, que dizia. Nada mais em você, além da saia e da blusa... NADA.Eu que não uso normalmente mini saia, por não ser confortável, uma com aquele comprimento, era de um abuso imediato. Tremendo, olhei o endereço. Duas quadras de onde estava. Imediatamente pensei em pegar um táxi. Mas não conhecia-o bem, porém, podia senti-lo perto.Parei desconcertada, na porta, lugar movimentado, em frente à doce menina que se chama Paulista. Caminhava em direção ao ponto de táxi, quando toca meu telefone.Paro, e atendo. Ouço a sua voz terna, porém firme: " Moça linda, ver-te assim, me encanta.... Nem pense em fazer o que te vem a mente.... Te acompanho, não quero que corras perigo algum. Sei como se sente, mas quero que saiba que te observo.... a cada passo... São apenas dois singelos quarteirões... Não seja preguiçosa...."Esbocei um sorriso de lado, e quando ia responder, a ligação havia sido interrompida. Caminhei, tentando equilibrar os passos, passos curtos, amedrontados. Equilíbrio de bolsa, de sapatos, fino salto...Driblando os acidentes das calçadas, as pessoas, a exposição, os olhares... Mulheres escandalizadas, homens desejosos.... E por dentro, me sentindo mais densa... mais dele...Em determinado momento, olhava o chão... excitada e tensa.Porque me faltava coragem, pra encarar os transeuntes. Dois quarteirões intermináveis. Buscava-o, olhando para trás, ao lado, mas não via. Em determinado momento, me achei uma tola de estar passando por situação tão constrangedora...Chego ao local, um hotel. Saguão cheio, de uma convenção de alguma coisa, pra se conhecer, não sei o que. Os olhares me cravejaram, como lanças no peito. De tão desconcertada, piso em falso e num esforço árduo, equilibro-me pra não cair.. Uma mão me segura, em apoio. Olho. Não era você. Agradeço rapidamente, e me dirijo ao balcão, com o intuito de perguntar por você.Quando chego, o rapaz, me entrega outro envelope e simplesmente me diz o número do apartamento e que estão à minha espera.Entro no elevador, o mais rápido que posso, pra tentar equilibrar-me no espírito.. Leio o recado: entre, deixe a porta aberta e use o que está ao lado das flores.Procuro pelo corredor o quarto... Olho-me no espelho, e vejo gotas de suor frio... Querendo aparecer em meu rosto. Paro, me ajeito rapidamente... Respiro fundo, e me olho profundamente. Penso: Maluca....Mas com o desejo à flor da pele.Entro no quarto. É amplo. Janelas grandes, pé direito alto. Leve na decoração. Claro. Um misto de dois ambientes. A ante sala, possui apenas um pequeno sofá, uma mesa de vidro e apoio de metal e duas cadeiras no mesmo estilo. Uma parede vazada, separa os dois ambientes. O quarto é amplo, uma das paredes de janela inteira e na outra parede encontra-se um armário, de espelho. Um espaço, e um degrau para chegar até a cama.Encontro na mesa da ante sala, um vaso, com duas flores... copos de leite. Ao lado uma venda, daquelas que se usam em avião.Sento. Coloco-a. Algum tempo se passa. Sinto seu cheiro no ambiente e ouço passos abafados... Sinto seu cheiro agora perto. Caminhas em direção a mim... pega-me pelas mãos....Em pé, posso saber.... em frente ao espelho....Prende-me às mãos suspensas na direção do teto... amarra-me...As pontas dos pés apoiam no chão.....Sinto-me calma e deliciosamente, despir-me das poucas roupas que me cobriam... Ouço-o dizer baixo: - Ficarás assim.... vendo-se no espelho....Tira a venda e caminha em direção à porta... Atônita, busca-lo com o olhar.... Silêncio absoluto....As horas passam, num misto de agonia, de sofrimento, de desamparo.... Mas meu desejo está ali, a me denunciar, com os pés molhados, e uma roda a molhar o meu chão e a alma..... Sei que voltas e espero....