27.12.05

Ar



È necessário respirar. Meu foco está em respirar.
Duas pequenas aberturas na máscara, nas narinas e nada mais difícil que concentrar-se na simples tarefa de respirar.
Máscara preta, inteira, completamente fechada. Sem abertura nos olhos, na boca, nos ouvidos Apenas dois pequenos furinhos nas narinas.
Expira. Inspira. Expira, Inspira.
A sensação é de absoluto constrangimento ilegal. Como se lhe tirassem tudo, e lhe dessem apenas a capacidade de Inspirar e Expirar.
Sem visão, sem audição. Apenas o tato, que fica intensificado pela ausência dos outros sentidos.
Ausente de alguma forma também está minha alma, nesse momento.
A única coisa que sinto é um tesão imenso e medo. Um medo bom.
Mas em outros momentos anteriores, estaria ali entregue de alma. E apesar de dócil, doce, estou aqui a espreita, e não entregue completamente. Seguro meus bichos e seguro a minha onda
Misto de sensações, algo mudou e não sei dizer o que é. Estamos diferentes. Você mais solto, eu bem mais retraída e instrospectiva.
Não consigo relaxar, fico tensa a maioria do tempo, e me concentrando em Inspirar e Expirar.
Como se a máscara estivesse em mim, ainda.
Estar submetida a você é uma sensação sublime e ainda única. Mas frustrante é a sensação previsível que sinto sem saber explicar, apenas um ligeiro vazio que chega me invadido.
Sinto frustração e raiva. Sinto-me inquieta. Nua.
Dentro das escolhas das sensações é excelente perceber, que as coisas estão além de nosso desejo e controle. Mas é ruim perceber as areias de mim, escorrendo pelos vãos dos teus dedos, como se não fosse mais possível estar completamente em tuas mãos.
Estão sobre o seu controle.
Expiro e Inspiro, e penso se é melhor pra mim: Asfixiar meus desejos ou Inspirar sensações.
Preciso de Ar.

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